O local de trabalho pode ser um ambiente propício ao surgimento de
alergias conhecidas como dermatoses ocupacionais. De acordo com a dermatologista
Maria das Graças Mota Melo, os casos mais comuns são as dermatites de contato,
ou eczemas, em que a pele fica vermelha, com descamação e coceira e, dependendo
da intensidade, pode formar vesículas (bolinhas d’água) com eliminação de
líquido na área afetada. Ela é coordenadora do Serviço de Dermatologia
Ocupacional do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, da
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), considerado como mais um
serviço de excelência da Fundação Oswaldo Cruz. Ali, são atendidos por mês,
cerca de 60 pacientes, encaminhados pela Rede do Sistema Único de Saúde (SUS),
por sindicatos ou pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Deste número,
em torno de 12 são casos novos de dermatose ocupacional.
“Os nossos atendimentos incluem pacientes para primeira consulta, além de
reconsultas para esclarecimento do diagnóstico, tratamento ou emissão de laudos
técnicos. Acredito que haveria um número bem mais alto se pudéssemos agendar
mais pacientes” explica a médica.
Para saber se você sofre de dermatose ocupacional, é necessário prestar
atenção nos sintomas. “A dermatite de contato (eczema), como o próprio nome diz,
vai ser percebida pelo trabalhador a cada contato com o agente causal. Se o
elemento químico causador da dermatose for muito irritante, poderá provocar
queimadura e até ulceração na pele. A alergia melhora com o afastamento do local
de trabalho e piora com a reexposição. O ideal seria que cada pessoa tivesse
conhecimento sobre os riscos existentes no trabalho, pois esta informação
poderia contribuir para a detecção mais precoce da dermatose”, explica Maria das
Graças. Outras dermatoses ocupacionais frequentes geralmente são as micoses que
surgem principalmente nos pés, ocasionadas pelo uso constante de botas de couro
ou de borracha. De acordo com a dermatologista, os casos mais graves são os dos
pedreiros. Como normalmente há demora em estabelecer o diagnóstico, e,
usualmente, eles não costumam utilizar proteção quando lidam com o cimento, já
chegam ao Serviço de Dermatologia em estado grave. Isto também costuma acontecer
com pintores, faxineiros e manicures.
Muitos profissionais podem estar sofrendo de dermatose ocupacional sem estar
cientes disto. “Os produtos químicos em contato com a pele propensa à alergia
comumente geram eczemas, mas também podem provocar queimaduras, alterações da
cor da pele (manchas escuras, manchas vitiligóides), erupções liquenóides e até
câncer de pele. Os diferentes agentes biológicos geram doenças específicas,
dependendo da atividade exercida por cada trabalhador, como, por exemplo,
esporotricose em veterinários e candidíase ungueal em faxineiras. Agentes
físicos como frio, calor, radiações ionizantes e não ionizantes também causam
dermatoses. Vale a pena destacar o trabalho com exposição solar por
agricultores, pescadores, guardas de endemias, agentes de saúde etc, que além do
envelhecimento precoce da pele, também sofrem danos oculares e até câncer de
pele.” Na maioria dos casos, a observação e a informação podem ser fundamentais.
“É extremamente importante detectar o mais cedo possível que a doença tem
relação com a atividade exercida. Se tiver, a primeira medida é avaliar que
ações podem ser tomadas. Às vezes, basta afastar o trabalhador da exposição a
uma determinada substância, do seu setor e até do próprio trabalho.”
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